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De “só acredito” em “só acredito”, vai seguindo a Lava-Jato


“Quando a lenda é melhor que o fato, imprima-se a lenda”. A célebre frase do filme “O Homem que matou o Facínora”, de John Ford, parece ter ampliado o seu alcance nesses tempos de mídias sociais. Se ela já relativizava em 1962 a credibilidade da imprensa (e tal relativização poderia ir mais longe, já que o filme é um western passado no século 19), imagine-se ela hoje, quando tudo é falseado e distorcido nos Facebooks da vida.

Para muita gente, fica mais conveniente para a construção da sua narrativa repetir que a Operação Lava-Jato e seus desdobramentos sejam algo apenas contra um partido, criado para apear determinado grupo político do poder. Pode até ser. Mas saber realmente se tal afirmação é fato ou lenda, somente o tempo será capaz de determinar com precisão, quando tudo estiver terminado. Mas, para uma narrativa de vitimização de determinado grupo político, sempre é complicado encaixar os fatos que não colaboram com essa versão. E a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um desses fatos.

A verdade é que, desde que saiu do campo inicial dos esquemas de lavagem de dinheiro que a batizaram (um doleiro de Brasília tinha escritório em um posto de gasolina, daí o nome da operação) e encostou nos políticos, a Operação Lava-Jato tem apontado para gente de diversas legendas. Até se disse que a lista de investigados elaborada lá atrás pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tinha exatamente o propósito de calibrar a acusação de forma suprapartidária. Se tinha um comandante petista como José Dirceu, tinha um dos mais fieis aliados de Aécio Neves, o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG). E tinha pesos pesados do PMDB, como os então presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha. No curso das investigações, uns saíram, outros entraram. Anastasia saiu. E até justo argumentar que o PSDB ainda não foi atingido em cheio na investigação, embora ainda haja investigação em curso que pode alcançá-lo.

Especialmente Cunha tem sido desde sempre um contraponto das investigações que atingiram a ex-presidente Dilma Rousseff e o PT. Como já se disse por aqui, virou uma crise pingue-pongue: para cada bola que atingia Dilma, volta-se com outra que atingia Cunha. Ela sofreu impeachment. Ele foi cassado e agora é preso.

Agora, o acordo de delação premiada que deve ser feito pelos executivos da construtora Odebrecht eriça os pelos de toda a classe política. As informações preliminares dizem que a empreiteira entregará tudo o que há no seu relacionamento com os políticos, sejam de que partidos forem. E que há muito peemedebista que deve se preocupar.

É justo dizer que o PT de Dilma ainda é mais prejudicado. Mas é um tanto quanto natural que, sendo dos partidos investigados o que estava no poder, tenha sido o mais afetado. É justo dizer que o jogo ainda não é equilibrado.

Por outro lado, em se tratando de Eduardo Cunha, primeiro se dizia que ele não deixaria a Presidência da Câmara. Ele a deixou. Depois, se dizia que não seria cassado. Ele foi cassado de forma quase unânime. Então, se disse que ele jamais seria preso. Eduardo Cunha foi preso. A cada fato que contraria certa “lenda”, surgia nas redes sociais um “só acredito quando...”. Bem, de “só acredito” em “só acredito”, segue a Lava-Jato.


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