top of page

Dilma pingue... Cunha pongue... O jogo acabou?


Como a gente vem dizendo desde a época da coluna naquele site que não deve mais ser nomeado, a crise política que vivemos nos últimos tempos se assemelha a um jogo de pingue-pongue. A cada lance que atingiu a ex-presidente Dilma Rousseff veio na sequência um lance que atingiu o ex-deputado Eduardo Cunha. Até os momentos finais nos últimos dias.

Pingue: Por 61 votos a 20, os senadores aprovaram o impeachment de Dilma.

Pongue: Por 450 votos a 10, os deputados cassaram o mandato de Eduardo Cunha.

Desde o primeiro momento, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha foram o reflexo meio distorcido do outro. Além das denúncias que há contra um e outro, dos fatos trazidos à tona pelas investigações da Operação Lava-Jato e outras, os acontecimentos políticos ganharam velocidade e chegaram no ponto em que chegaram muito em função das atitudes de ambos.

Com o surpreendente semblante inexpressivo de quem, no máximo, tivesse tido um contratempo menor, como chegar atrasado a uma sessão de cinema, Cunha reconhecia, na entrevista que deu após a sua cassação, que um dos erros que cometera foi ter levado tão longe sua briga com o governo Dilma. Na verdade, desde o início, ambos levaram a briga longe demais. E, aí, fica difícil saber se haveria de fato possibilidade de convivência entre Dilma e Cunha. Como afogados, os dois se abraçaram e foram juntos para o fundo do poço.

Se formos em busca de um erro inicial, ele estaria ainda lá na formação da aliança do PT com o PMDB na primeira eleição de Dilma. Foi a primeira vez desde a redemocratização do país que o PMDB conseguiu se unir para entrar inteiro na coalizão de algum governo. Nas duas primeiras eleições presidenciais, teve candidato próprio – Ulysses Guimarães e Orestes Quercia –, com resultados pífios - diga-se, sem a totalidade de apoio do partido. A partir daí, o PMDB optou pela prática do bicanoísmo – o curioso esporte de navegar com um pé em cada canoa: uma parte do partido ia para a candidatura governista, outra ficava na oposição. Quando virava o jogo, os grupos trocavam de posição.

Em 1998, na segunda eleição de Fernando Henrique, o PMDB dividiu-se de tal forma que não foi capaz sequer de ter candidato próprio ou apoiar oficialmente alguém. Na convenção nacional do partido, a briga entre as correntes que pregavam a candidatura de Itamar Franco e as que defendiam apoio à reeleição foi tão intensa que terminou com a porta do plenário da Câmara, onde a convenção foi realizada, arrebentada. Na primeira eleição de Lula, o PMDB oficialmente apoiava a candidatura de José Serra, do PSDB, mas com uma ala, capitaneada por José Sarney e Renan Calheiros, apoiando o nome do PT. A entrada formal do PMDB na aliança só se deu na primeira candidatura de Dilma, quando Temer se tornou seu vice.

Desde o princípio, o PMDB forçou para que tivesse dentro do governo um protagonismo que julgava equivalente ao peso conquistado por ter entrado na aliança. Temer, no comando do partido, segurava a unidade, mas deixando que em alguns momentos seus companheiros mais radicais se apresentassem para criar problemas e fazer pressão. Foi nesse ambiente que Eduardo Cunha cresceu.

Quando se apresentou como candidato à Presidência da Câmara fazia parte do conjunto de pressões feita pelo PMDB para crescer junto à administração de Dilma. O problema de Dilma, aí, foi ter resolvido pagar para ver sem ter, de fato, as condições para isso. Apostou em transformar Cunha – oficialmente um candidato de um partido aliado do governo – em adversário, lançando a candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP), que se revelou sem nenhuma chance. Cunha derrotou Chinaglia fragorosamente e, respaldado até pela própria opção do governo, foi desde sempre um presidente da Câmara adversário do governo.

A partir daí, só foi se agravando a guerra entre os dois. Até o momento em que Cunha tinha como trunfos os pedidos de impeachment de Dilma. Trunfos para tentar negociar as acusações que também surgiram contra ele, de recebimento de propina no esquema da Lava-Jato e de ter contas não declaradas na Suíça. Mas ambos seguiram na balada de não ceder. E levaram essa disposição até as últimas consequências.

Agora, há quem avalie no meio político que a entrega das duas principais cabeças possa levar ao fim do jogo de pingue-pongue. Ao arrefecimento da situação para que se encontre o tal acordo político que as elites políticas desejam para estancar a Lava-Jato e as demais denúncias de corrupção. Lembram alguns a situação ocorrida quando foram cassados os mandatos de José Dirceu e Roberto Jefferson no princípio do mensalão. Um de cada lado, jogo empatado, fim.

Este colunista recomenda prudência. E vale-se dos próprios exemplos de Dirceu e Jefferson para isso. Se, no Congresso, o jogo ficou restrito aos dois, ele não parou na Justiça. Houve o julgamento do mensalão e ele condenou à prisão um considerável naco da elite política brasileira. Assim, partindo do mesmo princípio, será que a Lava-Jato, tendo chegado onde chegou, pode ainda ser parada por um acerto político? A ver...


Featured Posts
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Recent Posts
Search By Tags
Nenhum tag.
Follow Us
  • Facebook Long Shadow
bottom of page