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Quem iluminará esses dias de apagão?


Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil-EBC

Então o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), marca a sessão de votação da proposta de reforma trabalhista do governo do presidente Michel Temer. Então um grupo de senadoras de oposição resolve tomar a Mesa do Senado para impedir que a votação começasse. Então Eunício suspende a sessão. E manda apagar as luzes do Senado e cortar os microfones. Então as senadoras resolvem permanecer na Mesa. Então, quem está dentro do plenário não sai e quem está fora não entra. Em resumo, neste primeiro parágrafo, o dia em que as instituições brasileiras sofreram – literalmente – um apagão. Um dia depois, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelo juiz Sergio Moro. Um dia depois, o PMDB resolveu ameaçar de punição quem votasse a favor da abertura de processo contra o presidente Michel Temer. Iniciou-se no episódio do apagão o momento em que o vale-tudo substituiu a ordem institucional.

O obscuro – outra vez no sentido literal – episódio no plenário do Senado é um reflexo veemente de que chegamos ao perigoso ponto em que as regras institucionais deixam de ser respeitadas. Pela sensação de que todos, ao longo desse processo, já a desrespeitaram em algum momento. Fica, então o vale-tudo. Consegue mais quem pode mais.

Diversos foram os fatores que se conjugaram até o plenário do Senado ficar às escuras. Na verdade, era pedra cantada que um processo de impeachment contra alguém de um partido como o PT não seria recebido de forma tão pacífica como foi recebido o impeachment contra Fernando Collor. O primeiro presidente afastado era um aventureiro. Nem partido tinha. Inventou um para se eleger. Quando caiu, não havia quem o defendesse. O PT é um dos maiores partidos do país. Certamente o que tem a militância mais organizada. Se os opositores do PT acenderam a crise para criar as condições do impeachment, não é do PT que se deve esperar algum esforço para que a crise se apague.

Se somam a isso alguns pontos estranhos que reforçam os questionamentos sobre o que houve. Como a pedalada senatorial que cassou o mandato de Dilma Rousseff e preservou seus direitos políticos, encontrando um sentido no mínimo questionável para o que a Constituição diz ser a pena para crime de responsabilidade: perda do mandato “com” suspensão dos direitos políticos. Ou seja: a dubiedade do Senado no episódio ajuda a reforçar argumentos de quem considera que não havia elementos suficientes para condenar Dilma.

E a continuação da usina de escândalos atingindo Temer e seu governo, talvez até com mais contundência do que atingiu Dilma (ou, pelo menos, não houve contra ela um Joesley Batista tendo uma conversa como a que teve com o atual presidente). Empate horroroso de um jogo sem jogadas bonitas, mas só com tristes botinadas.

Legítimo ou não esse jogo sem regras, é assim que ele segue. Quem iluminará esses dias de apagão?


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