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TemerXJanot: o duelo


Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil-EBC

A cada capítulo da interminável novela da crise brasileira, vai se tornando mais violenta a disputa entre o presidente Michel Temer e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A essa altura, Temer e Janot já não brigam sozinhos. Vão arregimentando cada um os seus exércitos. Enquanto isso, nós, brasileiros, seguimos sofrendo. É como se vivêssemos debaixo de um quadro de cerração absoluta, daquelas em que é impossível enxergar o que está a apenas alguns centímetros à frente. Longe de saber qual será o desfecho dessa crise, vamos ficando incapazes de perceber sequer quais serão os próximos passos.

Na denúncia que apresentou contra Temer, Janot joga pesado. O acusa do crime de corrupção passiva. Deixa claro que Rodrigo Rocha Loures era o homem da mala do presidente, a pessoa que, a mando de Temer, agia na negociação do pagamento de propina feito pelo dono da Friboi, Joesley Batista.

“Em todo esse contexto, está clara a comunhão de esforços e unidade de desígnios dos denunciados Michel Temer e Rodrigo Loures. Os diversos episódios constantes desta peça acusatória apontam para o desdobramento criminoso desde o encontro entre Michel Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu no dia 07 de março de 2017 e que culminou com a primeira entrega de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), efetuada por Ricardo Saud a Rodrigo Loures, em 28 de abril de 2017”, escreve Janot.

Da sua parte, Temer reage com a mesma intensidade. Chama a denúncia de "peça de ficção". Reúne ao seu lado o máximo de deputados possível, para mostrar que tem apoio político suficiente para barrar na Câmara o acolhimento da denúncia feita pelo procurador-geral.

Os exércitos de Temer e Janot já têm altos oficiais no Supremo Tribunal Federal. Gilmar Mendes, ao lado de Temer, condena os “abusos” do Ministério Público. Roberto Barroso alinha-se a Janot e diz que não há abuso, mas o Estado Democrático de Direito funcionando “contra uma república de bananas que sempre varreu a corrupção para baixo do tapete”.

A verdade é que vai ficando cada vez mais clara a inexistência de um acerto político para estancar no PT e na ex-presidente Dilma Rousseff a sangria da crise político. O tal acerto estava meio que consubstanciado naqueles famosos diálogos gravados entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Tira a Dilma, põe o Temer, e tudo se resolve, era o resumo da conversa. A partir do momento em que o próprio Sergio Machado procurou o Ministério Público e a Justiça para um acordo de delação premiada que incluía o tal diálogo, já ficava claro que o acerto não aconteceria. De lá para cá, isso só foi ganhando contornos mais evidentes.

O problema é que tal situação forma também uma zona de alto perigo. Ao contrário de crises do passado, nessa crise não há bombeiro nem solução aparente. Ela tem como centro a forma como se relacionam financiadores e financiados na política brasileira, em todos os partidos. Assim, há culpados em todas as legendas e interesses contrariados em todas elas. Acirrar os enfrentamentos, como fazem Temer e Janot, não ajudará a arrefecer a crise. Mas não há qualquer sinal de que acontecerá algo diferente. Só nos restará assistir e esperar por quem piscará primeiro.


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