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Após curva à direita, Alckmin sai na frente

Algumas conclusões que podem ser feitas após o segundo turno das eleições municipais:

- O expressivo número de pessoas que não votou nas eleições mostra grande grau de desilusão, de descontentamento, de falta de motivação, do cidadão. No segundo turno, foram mais de 10 milhões as pessoas que se abstiveram – faltaram, votaram branco ou nulo. O mundo político deveria parar de fazer cara de paisagem quanto a isso. O atual sistema está em xeque. Faz-se o círculo vicioso, a partir de um novo grau menor de tolerância com a forma como se relacionam financiadores e financiados na política: o Ministério Público e a Polícia Federal investigam e denunciam; a Justiça condena; políticos estão indo parar na cadeia ou ficam com a ficha suja; a situação se generaliza, e o eleitor se desilude. Já passou da hora de o sistema político para de fingir que isso não existe. A cada eleição, tal situação só se agrava e é preciso ser discutida uma ampla mudança.

- Boa parte daqueles que votaram escolheram candidatos mais distantes das conformações tradicionais da política. E seus partidos. Há um grande número de prefeitos eleitos de partidos menores e menos conhecidos, como PHS, PRB, PMN... Isso igualmente é reflexo da mesma desilusão, desta vez de gente que ainda acredita no sistema, mas parece querer buscar renovação.

- Na maior parte dos casos, esses políticos e partidos novos escolhidos pelo eleitor têm perfil mais conservador. Após os vários anos em que o PT se manteve no poder – e se trata do partido que mais tempo permaneceu à frente do governo na era republicana brasileira –, o eleitor opta por um perfil mais à direita. Mas sem os arroubos extremistas dos Bolsonaros da vida.

- No caso dos partidos menores, nenhum deles concentrou número maior de votos. Houve uma pulverização. O que acaba beneficiando na contagem os partidos mais tradicionais. Nesse sentido, ganha o PSDB, que elegeu o maior número de prefeituras.

Amarremos, então, todas essas conclusões, com relação ao PSDB. A desvantagem que podem ter os tucanos nesse somatório é o fato de ter três pretendentes à Presidência da República se engalfinhando nos bastidores. Com que violência se dará essa disputa intestina é o ponto central para se saber até onde podem se atrapalhar os planos do PSDB. À primeira vista, porém, o arranjo que saiu das urnas municipais parece dar vantagem ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Alckmin já tinha conseguido obter a importante vitória no primeiro turno na eleição de João Dória, o candidato tucano que construiu para governar a cidade de São Paulo. Agora, conseguiu eleger novos aliados em outras cidades importantes do estado.

Em contrapartida, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sofreu derrota em Belo Horizonte. Repete, assim, o que já tinha acontecido na eleição para governador em Minas Gerais. Aécio perdeu por muito pouco para Dilma Rousseff no plano nacional, mas em Minas seu candidato a governador, Pimenta da Veiga, foi derrotado ainda no primeiro turno por Fernando Pimentel, do PT. Agora, Alexandre Kalil, do PHS, derrota o ex-goleiro João Leite, o nome do PSDB e de Aécio em Belo Horizonte. As seguidas derrotas de Aécio em seu próprio campo começam a consolidar uma impressão de que o neto de Tancredo Neves possa ter perdido a sua janela de oportunidade. Como emplacar um projeto nacional quando não se consegue convencer nem o pessoal de casa? Por alguma razão que os mineiros poderão explicar melhor, parece ter havido ali um esgotamento da era Aécio. Além disso, o senador não tem conseguido aparecer no Congresso, no plano nacional, como uma referência importante. Pouco discursa, pouco fala, pouco se posiciona.

O terceiro nome na disputa tucana, José Serra, tem dificuldade parecida, ao perder terreno no jogo também em seu quintal, onde Alckmin hoje domina. Os prefeitos eleitos agora serão os principais cabos eleitorais na eleição de 2018.

Finalmente, há a guinada conservadora. Se o eleitor parece querer algo novo, a fragmentação pode não lhe dar essa escolha, obrigando-o a optar por alguém do campo mais tradicional que pareça mais com o perfil que ele deseja. E, nesse sentido, Alckmin parece ter o perfil mais próximo daquilo que o eleitor pareceu desejar nessa eleição municipal. Seu discurso e estilo é muito ligado a ideias de família tradicional, religião, enfim, às coisas que parecem ter ganho destaque no imaginário do eleitor agora.

Claro, tudo pode mudar até 2018. Mas as eleições municipais têm sido sempre um balizador importante do que acontece dois anos depois na disputa nacional. Por essas e outras, nessa corrida política, feita a curva à direita nessa etapa municipal, Alckmin, pelo menos por enquanto, parece liderar a corrida.


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