As eleições de 2018 e a Mosca Azul
Se eu tivesse o dom da clarividência, jogava cartas e fazia amarração pra pessoa amada voltar em três dias. Poderia ser um bom acréscimo no orçamento familiar nesses tempos bicudos do jornalismo brasileiro. Mas a verdade é que qualquer analista político que alguma vez na vida se aventurou a fazer previsões sobre o quadro eleitoral quebrou a cara de maneira retumbante. O trabalho aqui é traçar cenários a partir das informações que se tem a cada dia. Fazer previsão é para cartomantes.
E o que se pode dizer sobre os cenários a partir do resultado das últimas eleições municipais é que há ainda muitos fatores a se analisar antes de se saber exatamente quem sai na frente na corrida de 2018.
Os resultados das eleições agora parecem dar uma vantagem ao PSDB. E é por isso que os tucanos pressionam para que o presidente Michel Temer sinalize de forma clara que não disputará a sua reeleição. Chegam a pedir que ele apresente uma emenda acabando com essa possibilidade.
O problema a partir daí é a velha e boa Mosca Azul, inventada por Machado de Assis em um poema. A mosca que transmite o vírus da vaidade. Por conta da velha mosca azul, tudo vai depender muito do tamanho dos sucessos e insucessos do governo Temer daqui até 2018. Hoje, Temer peleja para tirar o país da crise, e seu governo avança e recua nesse sentido. Se até o final do mandato, Temer conseguir melhorar a situação, alguém duvida que ele não se sinta tentado a buscar mais quatro anos?
Ou mesmo que não busque, como saber exatamente como avançarão as coisas? Quando Itamar Franco assumiu no lugar de Fernando Collor, o acerto político ali feito apontava para um sucessor do mesmo PMDB ao qual ele era filiado. O candidato à Presidência seria o então ministro da Previdência, Antônio Brito, do PMDB. Fernando Henrique Cardoso era então ministro das Relações Exteriores. Mas Fernando Henrique foi transferido para o Ministério da Fazenda. Ali comandou o Plano Real, que acabou com a hiperinflação e conferiu ao país uma estabilidade econômica talvez nunca antes vista. Fernando Henrique, do PSDB, acabou sendo o candidato à Presidência. Quanto a Antônio Brito... Bem, há algum tempo não se tem maiores notícias de Antônio Brito...
No PSDB, a mosca azul faz com que no momento o partido tenha um excesso de pretendentes ao Palácio do Planalto. O atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, poderia ter a seu favor o fato de ter sido o primeiro a se articular com o PMDB, quando ainda não era concreta a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff. Mas, em São Paulo, quem ganhou a eleição municipal foi o governador Geraldo Alckmin, com seu indicado João Dória Jr., que deu uma lavada a levou a prefeitura no primeiro turno. Aécio Neves, que disputou cabeça por cabeça a última eleição com Dilma, segue no páreo. Seu candidato, João Leite, disputa o segundo turno da eleição municipal em Belo Horizonte.
E há os movimentos no campo oposto. O PT, bem combalido, discute a hipótese de apoiar uma candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Ciro foi esperto nos posicionamentos que fez sobre o impeachment. Apoiou Dilma. Demonstrou certa coragem bem recebida pela militância petista. Mas também apontou erros e desacertos, tentando demonstrar que faria diferente. Pode encontrar apoio do campo derrotado no processo de impeachment sem estar envolvido com os erros cometidos e com as denúncias contra esse campo. Mas ninguém deve jamais subestimar Luiz Inácio Lula da Silva, se as investigações contra ele não foram capazes de tirá-lo do páreo. Ou a força de um retorno petista com algum outro nome (fala-se em Jaques Wagner) se o governo Temer der com os burros n’água. Marina Silva segue seu caminho, às vezes pouco claro, para construir a sua Rede.
E há o campo conservador. Que cresceu e perdeu a vergonha. Até onde irão Bolsonaros e que tais é preciso também se ir observando.