Uma breve história sobre Ulysses, no seu centenário
Eu não sou um Orlando Brito, autor dessa foto maravilhosa, para falar de Ulysses Guimarães. Ou um Jorge Bastos Moreno. Mas, jornalista político que sou já com 52 anos de idade e mais de 30 de profissão, tive a chance de conhecer Ulysses e acompanhar parte pequena da sua trajetória. Confesso que, jovem ainda, Ulysses me impunha uma reverência que chegava quase a medo. Alto, espadaúdo, com a sua voz muito grave, ele era a tradução física da sua famosa frase: "Respeitem o líder da oposição!". Pra mim, era impossível não respeitar a sua trajetória e tudo aquilo que ele representava.
Pelo Estadão, nas eleições de 1989, coube a mim cobrir a sua candidatura à Presidência. Era uma chapa complicada e conturbada. Ulysses e seu candidato a vice, Waldir Pires, representavam alas diferentes do PMDB e viviam se bicando durante a campanha.
Seu comitê de campanha era a coisa mais inusitada do mundo. Quase um negócio de romance para abrigar uma candidatura que não decolava. Ficava no Pátio Brasil, o shopping, na época ainda em obras! Durante anos, a obra do Pátio Brasil ficou embargada. Então, se entrava pelo portão de entrada dos caminhões ali pelo lado norte do shopping e por ali se ia para o elevador da torre andando pelo chão cimentado da obra. Totalmente surrealista.
Ao final, como se sabe, Ulysses teve apenas algo em torno de 4% dos votos. Antes do final do primeiro turno, já era claro que ele estaria longe de ir para o segundo turno. Começava-se a especulação, portanto, de quem ele e outros candidatos iriam apoiar, as opções afunilando-se em Collor, Lula ou Brizola.
Em todas as entrevistas, Ulysses recusava-se a admitir que não tinha mais chance de ir para o segundo turno. Então, eu meio que tentei dar uma de esperto pra ver se conseguia tirar dele quem ele apoiaria no segundo turno. "Doutor Ulysses, longe de achar que o senhor não irá para o segundo turno. Mas eleição é uma disputa, né? E ninguém pode saber o que as urnas reservam. Então, nesse sentido, na hipótese de o senhor não ir para o segundo turno, quem o senhor tenderia a apoiar?"
Eu estava meio que por trás dele. Ele me olhou de rabo de olho e disse algo assim: "Meu caro, eu tenho 73 anos de idade. Você acha que eu cairia numa pergunta dessas?"