Ninguém: esse é o nome do grande campeão de votos nas eleições deste ano
Foi a opção de quase 10 milhões de pessoas apenas nas capitais. Mais precisamente: 9.981.479 pessoas nas capitais brasileiras optaram neste domingo por simplesmente não votar ou marcaram voto branco ou nulo nas urnas eletrônicas. Em uma quantidade considerável de capitais, o número de pessoas que não escolheu nenhum dos candidatos à prefeitura superou o número de votos dados ao vencedor da eleição. Foi assim em nada menos que dez das capitais brasileiras.
E não estamos falando de capitais menores, de cidades afastadas ou menos politizadas. Estamos falando de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, de Porto Alegre. Nas maiores cidades do país, a opção flagrante do eleitor foi opção nenhuma. Aos detalhes, no parágrafo abaixo.
Em Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB) obteve 213.646 votos. A soma da abstenção, dos votos brancos e nulos foi de 328.805. Em Curitiba, Rafael Greca (PMDB) foi o mais votado com 356.539 votos – abstenção, brancos e nulos somaram 360.348. Em São Paulo, terra onde o PSDB festeja a vitória em primeiro turno de João Dória, a ele foram dados 3.085.187 votos, enquanto 3.096.304 se abstiveram ou votaram branco ou nulo. No Rio, a soma de abstenção, brancos e nulos soma 1.866.621, enquanto Marcello Crivella obteve 842.201 votos.
Sigamos com Belo Horizonte: João Leite (PSDB) teve 395.952 votos. Abstenção, brancos e nulos na capital mineira: 741.915. Campo Grande: 167.922 pessoas se abstiveram ou votaram branco e nulo, contra 147.694 votos dados em Marquinhos Trad (PSD). Em Cuiabá, 139.723 abstenções, brancos e nulos contra 98.051 votos em Emanuel Pinheiro (PMDB). Em Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB) recebeu 99.815 votos e foram 139.723 as abstenções, brancos e nulos. Em Belém, Zenaldo Coutinho teve 241.166 votos e 265.822 foram as abstenções, brancos e nulos. Finalmente, em Porto Velho, Dr. Hildo (PDT) recebeu 57.954 votos e 106.844 eleitores se abstiveram ou votaram branco ou nulo.
A verdade é que mais que uma propalada “onda azul”, com importantes vitórias de candidatos do PSDB, o que se percebe de fato nessas eleições é uma “onda branca”. Ou uma onda de desilusão e de indiferença com relação aos principais atores do jogo político. O resultado das diversas denúncias de corrupção vindas principalmente com a Operação Lava-Jato, que culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, de fato, comprometeu seriamente a performance do PT, que só conseguiu reeleger o prefeito de Rio Branco, no Acre, Marcus Alexandre. Mas, além disso, parece ter provocado no eleitor certo anestesiamento quanto à possibilidade de enxergar mudanças a partir do atual quadro político-partidário.
A eleição parece deixar claro o quão distante das ruas está o FlaxFlu frenético e bocó que se verifica nas redes sociais. À primeira vista, os resultados que beneficiam o PSDB poderiam fazer imaginar que o futebol político continua, com a vantagem deslocada agora do PT para os seus adversários tucanos de sempre. Mas o fato é que o número de pessoas dispostas a esse FlaxFlu vem diminuindo. Seja por esse expressivo número de pessoas que simplesmente abandonam o jogo, mas também pela performance de partidos menores, como o PSD e o Psol, que não deve ser desprezada. Quem enxerga alguma possibilidade no jogo eleitoral, começa a enxergá-la em agremiações hoje menores, sejam elas conservadoras como o PSD sejam de esquerda, como o Psol.
Muito já se disse aqui que a Lava-Jato e suas vertentes atacam um determinado modo de se financiar a política e as relações promíscuas entre financiadores e financiados a partir desse modelo. Mais do que querer apear do poder determinado partido ou grupo político, o que se questiona é esse modelo. Se assim não for exatamente na Justiça e no Ministério Público, assim parece ser na cabeça do eleitorado que, fora do FlaxFlu, demonstra rejeitar esse modelo. O que mais essa eleição parece projetar para o futuro é que ganhará mais o partido que primeiro conseguir convencer à população que segue modelo diferente. Se ninguém conseguir isso, a verdade está clara: perderão todos, com um número cada vez menor de pessoas a participar do processo democrático. E não há democracia sem a participação dos eleitores.