Não anda fácil a vida do “líder brasileiro” Michel Temer
Como será o primeiro Sete de Setembro de Michel Temer como presidente da República? Ao que tudo indica, não deverá ser fácil, e é provável que seja discreta a sua presença na parada militar na Esplanada dos Ministérios. Pelo menos nesses primeiros dias após o afastamento de Dilma Rousseff pelo Senado, a vida de Temer não anda nada fácil. Em outros momentos, a parada de Sete de Setembro refletiu a vida dos governantes. A própria Dilma sentiu isso no ano passado. É bem provável que isso agora também aconteça com Temer.
Há dois dias, o G1 noticiava como anda a popularidade do presidente nas capitais brasileiras, de acordo com o Ibope. O melhor índice alcançado foi em Manaus: 19%. Os piores, em Salvador e Aracaju, 8%. Em São Paulo, maior cidade brasileira, é de 13%. No Rio, 12%. Como a pesquisa está relacionada às eleições municipais, Brasília, onde não há eleição, não foi incluída. Em Goiânia, capital mais próxima, o índice ficou em 15%. Em julho, pesquisa nacional encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) registrava uma aprovação nacional ao governo Temer de 13%.
As manifestações ocorridas em várias cidades no fim de semana parecem ser algum reflexo disso. Temer tentar diminuí-las certamente não será algo que contribuirá para melhorar o clima. Não foram "40 baderneiros", como ele disse. Ainda que tenham ocorrido manifestações maiores no passado, os protestos que aconteceram agora foram expressivos. O PT é certamente o partido com maior inserção nos movimentos sociais organizados. Ignorar isso pode ser uma tremenda temeridade.
Certamente não contribui para a popularidade de Temer o tamanho do embrulho que se transformou a situação política brasileira. O PMDB do atual presidente foi o parceiro principal do PT durante os governos Dilma. Não por outra razão é que Temer foi seu vice-presidente e agora está no poder. Trata-se de um quadro bem diverso do que envolvia a presença de Itamar Franco como vice de Fernando Collor. Na época, Collor tinha um projeto pessoal de poder com um grupo também pessoal que trouxe de Alagoas. Um grupo pequeno, de um partido pequeno, que buscou um vice para ampliar suas possibilidades. No caso de Dilma, foi uma construção de coalizão para continuar um projeto que já vinha com Lula: dois partidos grandes se unindo para garantir maioria congressual. José Alencar, como vice de Lula nos dois primeiros governos petistas, estaria mais próximo do perfil de Itamar Franco.
O PMDB está tão envolvido quanto o PT nas principais investigações de corrupção que vinham corroendo a popularidade de Dilma. Não apenas na Lava-Jato. A recente Operação Greenfield, que investiga corrupção em fundos de pensão, tem igual potencial para chamuscar os dois partidos, que dominavam as indicações para os comandos desses fundos. Há ainda a complicar o PMDB o processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Certamente não melhorará em nada a confiança em um governo de Temer se o PMDB ajudar a esvaziar quórum ou participar de alguma manobra para evitar que o ex-presidente da Câmara tenha o destino que a população parece esperar para ele.
Soma-se a tudo isso a própria confusão criada durante o processo de impeachment de Dilma, que culminou com a controversa decisão do Senado de atenuar a punição à ex-presidente, aplicando uma dosimetria que a Constituição, à primeira vista, não parece garantir. A decisão do Senado gerou uma série de recursos ao Supremo, que vai ter que julgar a situação. Alguns ministros já se manifestaram no sentido de parecerem discordar do que fez o Senado. E, aí, não há clareza se o Supremo pode rever a segunda decisão (de não suspender por oito anos a possibilidade de Dilma exercer cargos públicos) sem provocar uma revisão da primeira decisão (a perda do mandato). Se tudo tiver que ser revisto, o prazo de afastamento de Dilma por 180 dias, determinado no início do processo, expirou. Assim, uma redefinição da votação pode colocar ela de volta na cadeira agora ocupada por Temer.
Toda essa incerteza certamente é causadora de alguns constrangimentos vividos por Temer na reunião do G20, na China. Na lista oficial de autoridades presentes no encontro, Temer é tratado apenas como “líder brasileiro” (brazilian leader). Para não haver dúvidas quanto ao tratamento, ele aparece na lista entre o “presidente” Mauricio Macri, da Argentina, e o “presidente” François Hollande, da França. Ou seja, para quem elaborou a lista, Macri e Holland eram incontestavelmente presidentes, e Temer, provavelmente dado o caráter meio sub-judice da sua situação, pareceu mais prudente ser tratado apenas como “líder”.
É por essas e outras que neste Sete de Setembro, o Rolls Royce presidencial deverá ficar na garagem...