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Como Dilma entrará para a história? Como culpada ou como vítima?


Chama a atenção o esvaziamento das manifestações deste domingo (31), contra e a favor do governo interino de Michel Temer, contra e a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Aparentemente, além da estridência das redes sociais, nas ruas – onde, pelo menos por enquanto, de fato vivem as pessoas – a preocupação vai tomando outro rumo.

Para além da narrativa histórica que vai ficar deste momento brasileiro – talvez um dos mais tristes e desprovidos de esperança que já vivemos –, parece começar a amadurecer a ideia de que precisamos virar a página e seguir em frente. Mesmo no PT da própria Dilma, essa é uma ideia que ganha força.

Como já contamos por aqui, durante algum tempo os petistas trabalharam com a hipótese de reverter o impeachment na segunda votação. Na verdade, não era uma ideia completamente desprovida de chance. Na primeira votação, que afastou Dilma do cargo, a vitória dos que faziam oposição a ela se deu por apenas dois votos de vantagem além do quórum mínimo. E houve senadores que discursaram no sentido de admitir que havia indícios para a investigação, mas não necessariamente pela conclusão já naquele momento do crime de responsabilidade. Casos, por exemplo, de Romário (PSB-RJ) e Cristovam Buarque (PPS-DF).

Passou a haver, então, uma negociação com Romário, Cristovam e alguns outros senadores para tentar reverter esses votos. Como não são senadores aliados de Dilma nem de Temer, a negociação passava por pontos que acenassem para além de um simples retorno da presidente afastada. Era a ideia de convocação de novas eleições, que levassem a um total saneamento do país, a uma reconstrução.

Além da complexidade da ideia – que não dependeria exclusivamente da própria Dilma, teria que ser aprovada pelo Congresso, com quórum suficiente para uma emenda constitucional –, a proposta não foi para a frente porque não provocou entusiasmo nem mesmo no PT.

A verdade é que Dilma nunca foi vista exatamente como uma petista. Virou presidente por uma solução política sacada da cartola de Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia de novas eleições agora, no calor das denúncias da Lava-Jato, provavelmente levaria à busca de alguma solução política que passasse longe dos partidos envolvidos – especialmente o próprio PT e também o PMDB de Temer. Ou seja: seria uma solução que traria para o centro da cena um novo grupo político – assim, prejuízo certo tanto para os petistas quanto para os peemedebistas.

Começou a crescer a sensação de que o próprio PT, bombardeado pelas denúncias, talvez precisasse agora de um fôlego novo para se recompor. Talvez nos dois anos que faltam para o fim do governo Temer. Trabalhando para amadurecer a narrativa do golpe e de uma certa vitimização do partido. Trabalhando para, como oposição, desgastar o governo Temer para, daí, tentar retornar em 2018. Num momento em que talvez ficasse mais esmaecida a memória dos escândalos.

Assim, sem o apoio do próprio PT, o retorno de Dilma vai ficando cada dia mais improvável. Ela vai entrando para a história. E é a história quem dirá como, no futuro, se dará essa entrada. Se como culpada ou como vítima.


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