Cunha dá “pernada a três por quatro”, mas se despenteia
- lagorudolfo
- 14 de jul. de 2016
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A capacidade do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em adiar o seu destino é tão impressionante que muitos a confundem com esperteza, como se ela fosse capaz de fazer com que ele pudesse, ao fim, se livrar daquilo que o espera. Na verdade, Cunha é mestre naquilo que os advogados chamam de “jus esperneandi”, os recursos que só adiam o desfecho do julgamento. É um impressionante repertório do esperneio. Como o personagem da canção de Chico Buarque, Eduardo Cunha dá “pernada a três por quatro”. Mas, ao contrário do personagem de Chico, Cunha se despenteia. A cada pernada que deu, seu repertório foi diminuindo. Agora, só o que lhe resta é conseguir adiar sua votação em plenário para o segundo semestre. Até poderá ter quem cante isso como vitória, mas não passará de mais um esperneio.
Cunha será cassado. A única coisa que ele ainda consegue fazer é ir adiando seu momento final. E, a cada adiamento que consegue, reduz-se também o apoio a ele. A decisão da Comissão de Constituição e Justiça foi um massacre para quem há apenas algumas semanas alardeava ter controle sobre ela. Quarenta e oito deputados votaram contra seu recurso para retornar o processo à Comissão de Ética. Cunha teve o apoio de apenas 12 deputados. Com 66 deputados, a Comissão de Constituição é a maior da Câmara, e composta de forma proporcional. Ou seja: essa votação indica que o destino do Eduardo Cunha no plenário não acontecerá de forma menos implacável.
Cunha conseguiu fazer com que seu processo de cassação fosse o mais longo da história da Câmara. Dizem que faz ameaças de contar o que sabe. Que não vai cair sozinho. Tais ameaças devem surtir os seus efeitos. Mas o desfecho da sua breve história como presidente da Câmara deverá ser mesmo a perda do mandato. Porque o temor a Cunha vai também ficando menor a cada dia. No início do governo interino de Michel Temer, ele ainda demonstrou forças para fazer André Moura (PSC-SE) o líder do governo. Pouco antes de ser derrotado na CCJ, Cunha viu a Câmara derrotar seu candidato à Presidência, Rogério Rosso (PSD-DF), e eleger Rodrigo Maia (DEM-RJ).
É preciso que se lembre que a história dessa crise política sempre teve como antagonistas Eduardo Cunha e Dilma Rousseff. Desde a eleição de Cunha nos primeiros dias de mandato de Dilma. Ali, a ex-presidente começou a delimitar seu campo político, tornando adversário o PMDB, seu principal aliado nas eleições. Quando elegeu-se Cunha como adversário, lançando-se a malfadada candidatura do petista Arlindo Chinaglia contra ele, a divisão foi posta. O PMDB votou em peso em Cunha e o final nós vimos: Cunha conduziu a admissão do processo de impeachment contra Dilma, que hoje a afasta da Presidência, exercida interinamente por Michel Temer. Sempre de forma paralela, construiu-se a desgraça de Cunha e de Dilma. Uma crise pingue-pongue, como já dissemos por aqui: ora a bola está em Dilma, ora está em Cunha.
E aí é preciso que se diga que quando a desgraça recai em Cunha ela atrapalha certa narrativa de vitimização de Dilma. Não interessa muito à narrativa de quem considera Dilma e o PT vítimas no processo da Lava-Jato que esse processo também leve consigo Cunha e outros atores do PMDB e demais partidos. Porque aí se constrói a ideia de que a investigação não poupa partidos nem se direciona especificamente apenas sobre alguns projetos políticos.
Meio como Schwarzenegger no primeiro Exterminador do Futuro, Cunha resiste quando todo mundo pensa que ele já era. Mas, como no filme do Arnoldão, Cunha perde no final.