O dilema do PT sobre o que fazer com Dilma
O processo de impeachment de Dilma Rousseff vai chegando ao fim e vão minguando as suas chances de revertê-lo. Não que algum dia tais chances tenham sido grandes. Mas a falta de unidade na estratégia daqueles que a defendiam certamente pesará no desfecho. Nem mesmo a própria Dilma conseguiu ter clareza sobre qual rumo seria o melhor a seguir: defender-se no processo para tentar revertê-lo ou trabalhar na construção da narrativa do golpe, de que a ação toda era ilegítima. No PT, houve a mesma divisão. Variando entre uma estratégia e outra, as chances foram diminuindo.
Um episódio nos bastidores deixou patente esse dilema interno no PT. Como contamos aqui há alguns dias, a bancada do partido no Senado vinha convencida de que deveria fechar posição em torno da ideia, levantada pela própria Dilma, de convocar um plebiscito para discutir novas eleições caso voltasse ao poder.
Em torno dessa proposta, a bancada chegou a conversar nas últimas semanas com cerca de uma dezena de senadores que, na primeira votação, se posicionaram a favor do afastamento de Dilma e que potencialmente poderiam mudar agora. Em princípio, para evitar o impeachment, bastaria reverter dois votos. Alguns argumentos poderiam ser considerados em torno da ideia. Primeiro, o fato de as investigações da Operação Lava-Jato também atingirem o PMDB de Michel Temer, e algumas pessoas bem próximas de seu núcleo, como o senador Romero Jucá, apenas para citar um deles. Segundo, o fato de as investigações apontarem indistintamente para várias pessoas e partidos – como o PSDB do senador Aécio Neves –, indicando a necessidade de um processo de depuração total do atual sistema político. E, last but not least, aguçando as pretensões de certos senadores que imaginariam ter alguma chance no caso de uma eleição antes de 2018, por não estarem envolvidos em nenhuma denúncia, como Cristovam Buarque e Alvaro Dias.
A bancada, porém, não poderia assumir publicamente tal ideia se o partido também não a abraçasse. E foi aí que a coisa pegou. O presidente do PT, Rui Falcão, hesitou, diante do fato de que a militância talvez não conseguisse compreender tal arranjo. Os senadores argumentaram que parecia não haver outra chance além dessa. Mas a coisa patinou.
Além desse ponto, o que levava a tal hesitação é o fato de não se ter segurança de que tal ideia poderia avançar. E a impressão, quase certeza, de que novas eleições não beneficiariam agora o PT. Nem o PMDB de Michel Temer. Certamente animariam mesmo as chances de figuras distantes dos partidos políticos mais tradicionais que a Lava-Jato atinge de forma mais certeira. Assim, era entregar de volta o poder a Dilma para que ela coordenasse um processo de eleição que entregaria o poder a outro grupo político.
A construção da narrativa do golpe não agrega hoje um cidadão sequer àqueles que já consideram que foi isso mesmo o que aconteceu. Mas alguns avaliam que poderia crescer caso o governo Michel Temer – com os seus igualmente acuados pela Lava-Jato – não conseguisse êxito. Daí, diante de um cenário igual de crise, o PT poderia tentar um retorno em 2018. Mais distante do calor da hora – com a operação dirigida pelo juiz Sergio Moro denunciando ora petistas ora peemedebistas ora tucanos –, talvez esse retorno fosse mais possível.
Tudo bastante arriscado e, na verdade, pouco formulado em termos de estratégia... Certamente pesa também em tudo isso o fato de o PT não se animar tanto assim com a própria Dilma como “companheira”. Sua origem política é o PDT. Ela foi uma invenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não uma construção do próprio partido. Muitos dos políticos conheceram bem de perto seu estilo, digamos, pouco diplomático de lidar com as pessoas e as coisas. Enfim, num processo que obrigaria gastar muita saliva e sola de sapato, não se animaram muito...