O impeachment ensaiou subir no telhado...
Quando o Senado votou a admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Rousseff e afastou-a da Presidência, ainda não havia este blog. Mas, no Facebook, comentei que os partidários da saída de Dilma deveriam ter cautela com o resultado. Embora nessa primeira votação só fosse necessária a maioria dos votos para afastar a presidente, a votação já seria uma demonstração prévia do ânimo dos senadores para a sua deposição definitiva.
Na votação final do impeachment, o quórum necessário é de dois terços. Ou seja: pelo menos 54 senadores. Na votação da admissibilidade, votaram pelo afastamento de Dilma 55 senadores. Ficou, assim, no limite do mínimo. Somente alguma coisa muito grave que surgisse na atual etapa poderia fazer com que os senadores que votaram a favor de Dilma mudassem de ideia agora. Com aqueles que faltaram em uma votação tão importante, ficava também difícil de contar agora. Assim, os 55 senadores que votaram na primeira votação eram a garantia segura do que haveria para a segunda e definitiva etapa.
Por outro lado, os contrários ao impeachment precisariam apenas virar dois dos 55 votos para fazer Dilma voltar ao posto principal no terceiro andar do Palácio do Planalto. É preciso que se diga que essa ainda parece uma tarefa improvável. Mas a verdade é que o andar cheio de tropeços da carruagem nessas três semanas de governo Michel Temer fez com que o impeachment de Dilma, pelo menos, ensaiasse subir no telhado.
Na primeira votação, alguns senadores já sinalizavam em seus votos que consideravam que havia indícios para iniciar o processo de impeachment. Mas que ainda não estavam totalmente convencidos da condenação da presidente. Argumentavam que precisavam votar pela admissibilidade do processo justamente para que, agora, apresentadas as alegações da acusação e da defesa, formassem, afinal, um juízo. Assim votou, por exemplo, o senador Romário (PSB-RJ). E foram também nessa linha argumentos de senadores como Cristovam Buarque (PPS-DF) e Acir Gurgacz (PDT-PR).
Afastada Dilma da Presidência, os passos seguintes da Operação Lava-Jato reforçam a impressão daqueles que a percebem como uma investigação sobre o sistema político, sobre a forma como o sistema político se financia e sobre as relações promíscuas entre os políticos de um modo geral e seus financiadores. E não como algo arquitetado somente com o propósito de apear do poder um determinado grupo político. A investigação que primeiro pesou sobre o PT, pesa agora sobre o PMDB. Já passou pelo PP e, como se vê pela avaliação dos próprios políticos nas conversas em que foram flagrados, deve chegar ao PSDB.
Ficou mais forte, assim, a sensação de que se afastou um grupo para manter no poder outro grupo igualmente envolvido com as mesmas acusações. E tal sensação ganhou força com uma velocidade que não se imaginava: em nenos de três semanas, dois ministros afastados porque apareceram em gravações de delações da mesma Operação Lava-Jato.
No Senado, diante do novo quadro, já se tenta uma negociação diferente com Dilma Rousseff. Por essa negociação, ela retornaria. Mas com o propósito de enviar imediatamente uma proposta de novas eleições. Esse assunto vem sendo discutido mesmo entre os senadores do PT, mas, principalmente, dentro do grupo que admitiria mudar de posição diante dos rolos contra o PMDB de Temer que aparecem nas delações premiadas, especialmente do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Quem defende essa ideia argumenta que Dilma, afastada, já não tem hoje cacife nenhum para impor o que quer que seja na negociação. E os senadores que votaram por seu afastamento, ao contrário, podem impor agora condições para mudar seu voto. Também pode-se argumentar que antes de ser afastada, já estava claro que Dilma já não reunia mais condições de continuar governando, sem maioria no Congresso. Diante da hipótese do impeachment, essa saída seria muito melhor para Dilma, na construção da sua narrativa histórica. Ela não seria uma presidente afastada por impeachment. Seria uma presidente que retornou e convocou novas eleições como única forma de promover o necessário saneamento do país diante das denúncias que recaíam sobre todos os grupos tradicionais da política.
Mais uma vez, é preciso se dizer que isso são coisas ditas hoje no Congresso. Não uma defesa deste que vos escreve de uma ou outra posição. Se as coisas irão ou não caminhar nesse sentido, só os próximos dias serão capazes de dizer. Mas que tem senador disposto a passear no telhado, ah, isso tem...