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Temer e o eco forte que vem das ruas


Na sua primeira semana, o governo interino de Michel Temer fica marcado pelas idas e vindas e pelas falas desastradas e depois desautorizadas de seus ministros. O elemento mais forte disso foi a extinção e recriação do Ministério da Cultura. Temer cedeu à forte pressão da classe artística e recriou a pasta.

É um reflexo de algo que só não era claro para os torcedores míopes deste nosso FlaxFlu bocó. Primeiro: o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência não tinha o apoio avassalador das ruas que alguns setores pretendiam demonstrar. Tinha forte apoio, sem dúvida, como demonstraram as várias demonstrações de protesto contra ela e o PT. Mas tinha forte reação também, embora menor, como as mesmas ruas demonstravam. No clima maniqueísta que se instalou no país, as torcidas de cada lado fingiam ignorar as torcidas do lado oposto.

Segundo: nem todo mundo que apoiava o afastamento de Dilma Rousseff estava automaticamente do lado do presidente interino Michel Temer. Boa parte tem a percepção de que Temer, seu PMDB, outros aliados e mesmo alguns dos que sempre foram adversários de Dilma e do PT, são também parte do mesmo problema, parte da mesma crise. As redes sociais foram sempre um claro reflexo disso. Com seus posts que diziam que quem votou em Temer foi quem votou em Dilma. Claro exemplo de que não havia da parte dos detratores de Dilma um engajamento automático às teses de Temer.

A forte manifestação de protesto ao governo Temer ocorrida no dia 20 em Belo Horizonte é um eco do que está dito no primeiro parágrafo. O presidente interino enfrentará uma forte oposição. Uma oposição que sabe ser organizada. O PT é um partido que nasceu com sólidas bases populares. Pode ter perdido parte delas ao longo do seu tempo no poder, quando, repetindo aqui uma crítica recente feita pelo próprio Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se um partido de cúpula, começando a se assemelhar às legendas que sempre criticara. Mas ainda manteve boa parte. Aprendeu também a se utilizar muito bem das redes sociais. Os aliados do PT e de Dilma souberam aproveitar a bateção de cabeças, os discursos desencontrados e outras mazelas do recente governo Temer nesses primeiros dias.

A reação da classe artística à extinção do Ministério da Cultura vai na linha do segundo parágrafo, ainda que boa parte dela tenha sido contra o afastamento de Dilma. É um reflexo de algo dito por aqui há alguns dias: Temer, neste seu início, pode ter levado seu governo mais à direita do que recomendava a prudência. Ou, para quem não queira entrar na divisão tradicional dos campos da política, além do que é realmente caro aos grupos que apoiaram o afastamento de Dilma e o colocaram na cadeira principal do gabinete principal do terceiro andar do Palácio do Planalto.

A polêmica em torno da troca do presidente da EBC também vai em linha semelhante. Helena Chagas explica muito bem, em seu site Os Divergentes. A troca mexeu com os brios de quem defende a criação de uma TV pública. O problema é que esse mesmo conceito de TV pública nunca ficou claro na EBC. Helena, como ex-ministra da Secretaria de Comunicação da Presidência, pode falar sobre isso de cadeira. Não raro, ministros do governo reclamavam do tom que julgavam crítico do noticiário da EBC, seja na TV seja na Agência Brasil. Da mesma forma como Temer reclamava ao final do governo Dilma de o tom do noticiário ser favorável demais a ela. Por uma razão simples: misturaram-se os conceitos de TV pública e governamental. Pouca gente sabe que existe ao lado da EBC uma TV governamental, a NBR. Que tom deveria ter a Agência Brasil: o de uma agência pública ou de uma agência governamental, uma vez que ela está diretamente vinculada ao governo e seus jornalistas são servidores públicos? Se há necessidade de uma agência pública, não haveria a necessidade também de uma agência governamental? Ao criar uma empresa jornalística pública, mas não desvinculá-la da direção governamental, entende Helena, o governo petista gerou ali uma tremenda confusão. Que Temer pode apenas ter aumentado.

Outra linha de dificuldade reside na discussão sobre qual seria a autonomia de fato de um governo interino. Já há alguns juristas que questionam se Temer poderia realmente mexer profundamente em estruturas e programas anteriormente criados se seu governo é interino. Se há - em tese, mas também de fato - a chance de Dilma retornar em 180 dias, poderia ele fazer mexidas profundas? Isso não poderia provocar insegurança jurídica?

São reflexos de problemas que Temer um pouco vislumbrou na montagem de seu governo. Mas que talvez tenham vindo mais fortes do que ele previa. Seu Ministério é eminentemente político para poder dar força à sua permanência num jogo que será jogado ainda no Congresso neste primeiro momento. Mas que também precisa ser jogado fora das paredes da Câmara e do Senado. No campo econômico, ele parece ter acertado, escolhendo nomes que acalmaram o mercado, desde Henrique Meirelles até o novo presidente da Petrobras, Pedro Parente. Mas obter apoio para conseguir aprovar medidas que impõem "sacrifícios a todos", como disse Meirelles em entrevista ao Correio Braziliense na sexta-feira, é que são elas.

O país segue em profunda ebulição...


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