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É preciso que algo mude para que tudo permaneça como está


Walter Campanato - EBC

Coxismos e mortadelismos à parte, é importante analisar os papeis exercidos sempre pelos grupos que originalmente formavam, lá no final da ditadura militar, a chamada Aliança Democrática. A dificuldade na formação de uma narrativa de que a deposição de Dilma teria sido uma luta entre esquerda e direita, uma luta de classes, esbarra no fato de que o grupo vencedor fazia parte - inclusive como parceiro preferencial - do grupo vencido enquanto isso lhe foi conveniente. Dentro da lógica que adotamos do presidencialismo de coalizão. Muito mais constrói-se o velho processo de sempre de desembarque das mesmas forças políticas de um projeto de sucesso para aderir a outro quando o projeto anterior fracassa e se inviabiliza. Essa tem sido sempre a nossa história. A partir da lógica da coalizão, todos os governos sempre se obrigaram a formar alianças de conveniência, que nada tinham de fato a ver com projetos ideológicos e políticos. Enquanto a aliança interessava às partes, mantinha-se o casamento. Quando não mais interessava, os aliados de ocasião promoviam o divórcio e iam em busca de seus novos parceiros.

Foi assim quando PFL e PMDB se uniram na formação da Aliança Democrática que derrubou a ditadura. Pelos humores do destino, o conciliador da oposição, Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse e o novo país redemocratizado passou a ser presidido por José Sarney, que apenas alguns meses antes era nada mais nada menos que o presidente do PDS, o partido que dava sustentação política à ditadura militar que foi derrubada. Ao longo do governo Sarney, conflitos e contradições no PMDB, que inchava no poder, geraram a formação do PSDB.

No impeachment de Fernando Collor, não houve PFL. Mas houve PMDB e o PSDB, que nasceu de dentro dele, com certo apoio informal do PT que, ao final, preferiu ficar fora do governo Itamar Franco. O Plano Cruzado deu ao PSDB as chances de se afirmar como alternativa de poder ao final da era Itamar.

Com Fernando Henrique no poder, foi a vez de o PSDB inchar. Na época, o ex-ministro das Comunicações Sergio Mota chamou sua legenda de "partido ônibus", pela forma como aceitava sem maiores questionamentos novos passageiros. Na nova configuração, Fernando Henrique trouxe de volta o PFL, que passou a ser seu principal parceiro.

Ao final do segundo governo Fernando Henrique, reconstruía-se a aliança com o PMDB. O partido seria o parceiro do PSDB na chapa de José Serra, nas eleições de 2002 contra Luiz Inácio Lula da Silva. Mas aí uma parcela do PMDB, capitaneada pelo mesmo José Sarney, já enxergava no horizonte a derrota e se abrigava na vitoriosa chapa petista de Lula.

De parceiro informal no primeiro governo Lula, o PMDB cresceu para a condição de principal parceiro formal do PT nos dois governos Dilma Rousseff, com Michel Temer como vice.

Na derrocada do governo Dilma, unem-se outra PMDB e o DEM - a nova sigla do velho PFL -, somando-se a eles o filhote PSDB. Assim, rainha morta, rei posto. Assim, seguimos sempre repetindo o "Leopardo" de Lampedusa: "É preciso que algo mude para que tudo permaneça como está".


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