Quem sabe onde fica o Norte?
Este blog é o embrião de um projeto. Segue na linha de algo com que eu venho sonhando há algum tempo, e tentei implementar - imagino que com algum sucesso - no fugaz período da minha experiência jornalística anterior.
Vivemos um tempo em que a oferta de informações é tão grande que acaba se banalizando. É como se, diante de tantos produtos oferecidos na prateleira, a gente não consiga mais discernir o que tem ou o que não tem qualidade. O que presta e o que não presta. O que é verdade ou mera manipulação. O que é honesto ou o que desonestamente se esconde em quixotismos de fachada.
Nesse mundo de múltipla oferta de informações, ganha quem for capaz de chegar mais próximo dos reais anseios, das dúvidas verdadeiras, de quem navega pelo mundo virtual em busca de respostas. O tempo dos grandes portais, com seu jornalismo online e instantâneo, tão variado quanto raso, pode estar ficando para trás, substituído por um modelo em que os diversos profissionais, dentro da sua especialidade, se aproximem mais da expectativa de cada leitor e seja capaz de saciá-la. Em vez dos grandes supermercados de outrora, uma rede de pequenos mercadinhos personalizados.
Essa é a ideia original em torno desta Bússola. Completo este ano 30 anos de cobertura especializada em política, especialmente no Congresso Nacional. É essa experiência que pretendo de alguma forma compartilhar. Primeiro, como um embrião. Que, se der certo, pode se ampliar para a amplitude toda pretendida nesse projeto.
Neste primeiro momento, será uma conversa menos pretensiosa. A frustração do meu projeto jornalístico anterior me obriga hoje a dividir essa tarefa aqui no blog com outras atividades. Se essa nossa convivência iniciada aqui der certo, quem sabe não poderei ir me livrando das demais obrigações e concentrar mais meus esforços por aqui, completando esse projeto?
A proposta inicial é a seguinte: pelo menos uma vez por dia, vou postar por aqui comentários e análises sobre a política brasileira. Quem me acompanha há mais tempo, sabe que tenho me dedicado à análise política, além da reportagem, há mais de 15 anos. Fui o criador e o primeiro titular da coluna "Nas Entrelinhas", do Correio Braziliense. Mantive mais tarde uma coluna enquanto fui editor executivo do site Congresso em Foco. E também na revista gaúcha Voto. Como editor chefe nesse frustrado e fugaz projeto jornalístico anterior - que, pelo desgosto que me causou, prefiro não dizer o nome -, mantive também uma coluna duas vezes por semana.
Em todos esses espaços, o esforço sempre foi no sentido de buscar um olhar distanciado, desapaixonado, apartidário, da realidade política brasileira. Na minha opinião, um olhar que deveria ser obrigatório a todo jornalista. Se ninguém admite que um comentário esportivo seja francamente favorável a determinada equipe em detrimento das demais, por que admite tal comportamento a um comentarista político? Ainda mais sabendo que o jornalismo político tem muito maior capacidade de contribuir para alterar e definir os cenários do país. O partidarismo que hoje assola determinado jornalismo político é um mal que muito contribuiu para o clima insano e desequilibrado que vivemos hoje.
Muito além da disputa político-partidária, a crise vivida hoje no Brasil é uma crise do seu sistema. É causada pelos modelos adotados de coalizão, de relação entre os partidos e de financiamento de campanha. Ultrapassar o FlaXFlu é uma tarefa necessária, por mais difícil que seja. Bem mais cômodo seria escolher um dos lados da disputa, ignorar os adversários e ficar apenas nele. Se não der mais dinheiro, dará pelo menos mais prazer ao ego, com os elogios de uma legião de clones que pensam da mesma forma.
Não vamos seguir por aí. Ninguém aqui pretende ser a bússola. Jamais teria essa pretensão. Como os leitores, também estou a procurá-la. O convite é para que, juntos, caminhemos por essa estrada chamada Brasil. E, quem sabe, talvez juntos possamos, assim, encontrar nosso tão desejado Norte.
