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A onda conservadora e o declínio dos impérios


Nada pode dar uma medida maior do choque que representa a vitória de Donald Trump do que o fato de ela ter sido prenunciada em 2000 por um episódio do desenho animado Os Simpsons. O episódio, intitulado “Bart to the Future” era uma previsão do futuro. Segundo o criador do desenho animado, Matt Groening, na ocasião eles colocaram Trump como presidente porque aquilo era a visão mais absurda de futuro que eles conseguiram ter. Ou seja: era uma piada. Dezesseis anos depois, Donald Trump, com seu cabelo dourado que lembra a peruca do palhaço do McDonald’s, foi eleito o novo presidente dos Estados Unidos.

Trata-se, até o momento, da mais veemente manifestação da onda conservadora que assola o planeta. Que já passou por aqui nas eleições municipais de outubro e que por aqui permanece. Que passou pela Inglaterra na decisão de deixar a Comunidade Europeia. Que deverá passar pela França nas suas próximas eleições. E que por aí segue. É curioso como os países do mundo replicam experiências semelhantes em cada momento da história. Hitler não foi um fenômeno isolado na Alemanha. Foi, na época, a mais aguda presença a conviver com diversos outros ditadores pelo mundo, como Stálin, na União Soviética; Mussolini, na Itália; Franco, na Espanha; Salazar, em Portugal; Vargas no Brasil. Nossos presidentes milicos foram tão somente a nossa face enquanto pululavam por aí outros tiranetes fardados, especialmente no continente americano.

Agora, boa parte do mundo parece seguir a mesma balada de optar por governantes conservadores. Com uma característica: a onda não é conservadora exatamente no que se refere a conceitos econômicos. Não se trata de capitalismo versus socialismo. É conservadora principalmente no que diz respeito a crenças, hábitos e costumes. Um conservadorismo xenófobo, preconceituoso quanto a gênero, raça, orientações religiosas e sexuais.

Que, no caso do Primeiro Mundo, tem muito a ver com o declínio dos impérios e da lógica geopolítica do século 20. Durante anos, as nações do Primeiro Mundo exploraram as do Terceiro Mundo até ultrapassar o limite da inviabilidade, para muitas delas. Sem alternativa, os cidadãos de muitos desses países do Terceiro Mundo forçam fluxos migratórios. E provocam uma tragédia planetária. Os campos de refugiados em Calais, na França, são uma forte imagem do problema.

No caso dos Estados Unidos que escolheram Trump, volta-se contra os vizinhos latinos, mexicanos e outros. Numa lógica perversa. Muitos dos latinos que hoje já se sentem instalados e seguros optaram por Trump num raciocínio egoísta de preservar seus direitos sentindo-os ameaçados pela pressão agora de novas levas de migrantes. É como o antigo beneficiário do Bolsa-Família que, tendo passado à condição de classe média, agora não quer a ameaça de novas levas de ex-pobres que venham a ameaçar as suas conquistas.

O problema disso tudo é que a reação conservadora nos países do Primeiro Mundo parece seguir na linha mais perigosa e explosiva possível. Vai acirrar conflitos que só tendem a se agravar se a solução for radicalizar fechamentos de fronteiras. Se a solução for apontar um dedo acusador e repressor sobre cada muçulmano como reação às ações das suas minorias radicais e terroristas. Se a reação for humilhação, violência e preconceito.

Do ponto de vista do nosso quintalzinho de jaboticabas, o problema, além dos preconceitos que provavelmente vão nos atingir na concessão de vistos, aeroportos, etc, está o fato justamente desse conservadorismo ser de costumes e não econômico. Esqueça a lógica capitalista liberal. Os Estados Unidos vão se proteger. E protegerão seus mercados, seus fabricantes, etc. Nada que soe muito bem para uma economia em crise que precisa se recuperar. O planeta não manda boas notícias...


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